quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Lembranças.

De tudo ficou um pouco
Da minha insegurança. Da tua timidez.
Dos silêncios. Do beijo
ficou um pouco.

Ficou um pouco de carinho
recebido no cabelo.
No olhar sonhador
de realidade ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste sorriso
de que teu lindo semblante
se iluminou. Ficaram poucas
conversas, poucos abraços apertados
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da risada exagerada,
de duas mãos unidas,
da carta
- em branco - amassada, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teus lábios
nos lábios meus.
De teu tímido silêncio
um pouco ficou, um pouco
no banco da praça,
nas fotos, antigas, que somem.

Ficou um pouco de tudo
em nossa memória,
coração partido, face branca,
ficou um pouco
de lágrima em nosso olhar,
tristeza.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de nós? Nas ruas,
que nos levam embora, na música,
nas conversas,
um pouco de mim aí,
um pouco de ti aqui.
Na amizade?
No amor?

Um pouco fica oscilando
no brilho das estrelas
e os Anjos não o esquecem,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma guitarra
sai esta nota aguda,
meio sol e meio lá,
grita esta boca de criança,
este som
liberado em mil abraços,
este prato de bateria,
este segredo harmônico...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de outro.
Perfume na minha jaqueta.
De tudo ficou um pouco;
Chuva em cabelos meus,
Límpidas lágrimas, murmúrio
de menina apaixonada,
e grandes lembranças:
músicas, fotos, papéis
de guardanapos... de sulfite.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh recorda os bons momentos
e esquece
a insuportável dor das brigas.

Mas de tudo, tudo mesmo, fica um pouco,
e sob o céu azul,
e sob os risos e sob gritos de criança,
e sob as árvores e sob os telhados,
e sob a ironia e sob o gelo,
e sob os abraços e sob os beijos,
e sob as lágrimas, os soluços,
e sob o drama e sob a morte,
e sob os livros, lugares, memórias,
e sob nós mesmos e sob nossos pés já afastados
e sob os princípios de cada um e da sociedade,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes uma rosa. Às vezes um espinho.